O ensino da matemática pode nunca mais ser o mesmo. Graças a um aparelho didático desenvolvido pelo professor Rubens Ferronato. O educador, que teve desde o início de sua formação a preocupação em realmente fazer os alunos compreenderem a disciplina, passou anos de sua vida buscando uma forma. Diante de tantos desafios encontrou uma solução. Agora seu objetivo é levar essa ferramenta ao maior número possível de estudantes, para melhorar, de fato, o aprendizado no Brasil.

O criador do instrumento conta que sua procura por algo que mudasse a forma de ensinar a matemática começou logo que se formou, há mais de 20 anos. Dando aulas voluntárias percebeu que os alunos não compreendiam o conteúdo e quando foi realmente para a sala, em 1996, sentiu imensa frustração. “Sentia-me um péssimo professor porque os alunos não entendiam. Então sempre fui criando métodos para tentar ajudar, para ficar mais fácil. Isso ia acontecendo e percebi que ensinar matemática exigia uma metodologia diferenciada”, lembra.

O grande desafio foi em 1998, quando foi lecionar para o curso superior de Ciências da Computação e teve um aluno cego. Se ensinar matemática para estudantes com todos os sentidos tinha muitas barreiras, agora parecia quase impossível. “Mas, não desistiria. Comecei a dar aulas para ele fora da sala, em sua casa. Na primeira ele me disse que tinha sido horrível, não havia entendido nada, que eu precisava falar do dia a dia para que compreendesse o uso da matemática. Na segunda aula disse que foi boa e na terceira me disse que tinha sido a melhor aula de sua vida”, relembra.

CONTEÚDO:

O professor conta que neste momento entendeu que precisava ser um professor que adequava o conteúdo às necessidades do aluno. “E a partir daquilo decidi que todas as minhas aulas seriam como a terceira dada àquele aluno cego. Na aula seguinte, no final os alunos levantaram e bateram palma e falaram que enfim haviam entendido algo de matemática”, comenta Mas, somente inovar na forma de passar o conteúdo não foi suficiente. “O meu aluno cego queria desistir do curso, porque começou a enfrentar dificuldades. Neste momento percebi que por mais que eu enchesse de detalhes e personalizasse a explicação, a comunicação apenas não era suficiente. Era preciso ter algo visual, no caso dele, tátil”, salienta.

UM INSTRUMENTO:

O educador diante do novo obstáculo mais uma vez inovou. “Eu pensei que esse aluno não podia desistir, ele exigia mais de mim, fazia de mim um professor melhor. Então fiz uma promessa a ele que levaria um material que iria o auxiliar. Passei a procurar em escolas especializadas, bibliotecas, livrarias e nada existia neste sentido. Foi quando, em frente a uma loja de materiais de construção tive uma ideia e pensei em um instrumento para ajudar este aluno a entender a matemática”, relembra. Uma placa de Eucatex com furos, uns pinos, elásticos e argolas viraram o primeiro objeto para o ensino da matemática do professor. Ferronato lembra que através daquele equipamento desenvolveu formas de ensinar os pontos cartesianos, depois equações da reta, funções de primeiro grau e assim por diante. “Quando levei para o aluno e ele apresentou muita facilidade percebi que era algo especial”, reconhece.

INCLUSÃO:

O aluno “cobaia” do experimento do professor obteve sucesso no aprendizado e mais do que isso, conseguiu a verdadeira inclusão. “O mais importante desta invenção foi perceber seus resultados sociais. Primeiro o aluno entendeu que era capaz de tudo, por mais que diziam que ele não iria aprender matemática, ele estava dominando. Segundo porque mudou a forma que os demais alunos os tratavam. Se antes ele era simplesmente aceito, depois, ele passou a fazer parte da turma como todos. Ele não era mais isolado, ele tinha o sentimento de pertencimento. Essa foi a parte mais maravilhosa, promover de fato a inclusão”, comemora o idealizador.

EXPANSÃO:

Tantos avanços proporcionados para o aluno com deficiência visual começaram a ser desejados pelos demais estudantes. O inventor conta que a turma passou a querer utilizar do material e sua invenção foi tomando uma proporção cada vez maior. “A ponto de eu largar a sala de aula para me dedicar e aprofundar nele. Fiz meu mestrado apresentando este recurso inédito e depois não parei mais. Criei um material e um método que podia fazer diferença no ensino da matemática. Passei a divulgá-lo e capacitar professores para utilizá-lo”, salienta.

O projeto recebeu vários prêmios e em 2007, após ganhar o Top Educacional, o material chegou ao conhecimento do Ministério da Educação. “O MEC aprovou o material, mas eu precisava começar a produzi-lo de forma industrial, porque até então era artesanal. Havia mudado o material, mas ainda era de forma manual”, lembra o potencial que atingiu da sua ideia.

Hoje seu material recebe o nome de Kit Multiplano. Ele consiste em um tabuleiro retangular operacional no qual são encaixados pinos, fixados elásticos, hastes e outros instrumentos que servem para o ensino da matemática Ele é produzido em Curitiba, dentro de todas as normas da indústria de material didático e atende a todos os estudantes, de todas as séries, a partir do Ensino Fundamental. Também é utilizado por pais, psicopedagogos e professores particulares.

“Atualmente o material possui a utilização para mais de 100 itens somente no ensino da matemática. Mas, ele expandiu para conhecimentos de estatísticas, física, ligações químicas, mapas, artes. Ele se tornou o mais complexo recurso pedagógico do mundo”, valoriza. O professor comenta também que seu recurso é alvo de muitos estudos, dissertações de mestrados e tese de doutorado. “Recentemente concorremos ao Viva Premios Schmidheiny, um prêmio latino americano. Ficamos em 5º lugar entre mais de 300 projetos”, enaltece.

DIVULGAÇÃO:

O objetivo do professor é que este instrumento seja mais do que reconhecido, mas que sua metodologia chegue realmente aos estudantes. Para isso ele o divulga entre as escolas particulares, públicas, secretarias de Educação municipais e estaduais. “Temos uma adesão grande no Nordeste, inclusive com um projeto em uma escola no interior do Ceará, que tinha o pior Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e em oito meses de utilização do material passou para um dos melhores, com 72% dos alunos tirando 100 em matemática”, comemora.

Ele revela que no Sul seu material também ganha gradativamente espaço. Na região, o município de Palotina o utiliza. O material também foi apresentado para o município de Toledo, que avalia a possibilidade de uso nas escolas. “Os professores recebem capacitação e passam a utilizar esse recurso pedagógico para ensinar matemática. Isso faz muita diferença, os alunos aprendem de fato, de forma mais ágil e didática, aproveita-se o pouco tempo de concentração dos estudantes. Ao dar uma aula com o material e metodologia está potencializando o ensino porque atende todos os alunos, os visuais, cinestésicos e os auditivos”, revela.

O grande sonho do professor é ver no futuro uma Educação diferente. “Nós só mudaremos a realidade no Brasil quando passarmos a ensinar de verdade. Hoje temos o pior ensino do mundo e não podemos ficar assim. A falta do aprendizado na matemática limita a pessoa para toda sua vida”, finaliza.”

Publicado no jornal impresso Diário do Oeste – Toledo em 15 de julho de 2017. Leia a matéria aqui em PDF

A história do professor criador do método que tem revolucionado o ensino da matemática

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